LINHARES JUNIOR.
O excelente narrador do SporTV e do Premiere FC é o terceiro entrevistado do nosso blog. Um grande prazer entrevistar um dos melhores narradores da tv brasileira, que fala sobre o atual momento do futebol brasileiro, o começo da carreira e muito mais!
CONFIRA:
Boa tarde Linhares. É uma satisfação muito grande poder te entrevistar e desde já agradeço a disponibilidade.
1) Seu sonho sempre foi ser jornalista? Qual era o seu sonho nos tempos de telespectador?
Descobri minha vocação quando tinha dez anos... Era apaixonado por futebol, jogava bola o dia inteiro... cresci em Engenheiro Beltrão, uma cidade pequena do interior do Paraná, onde nasci. Ouvia futebol no rádio, pelas ondas curtas e desde então sonhava em ser narrador, como aqueles que ouvia... Fiori Gigliotti era uma inspiração... Tinha o Doalcei Bueno de Camargo, Waldir Amaral e Jorge Curi... Depois José Carlos Araújo e Osmar Santos... Narrava meus jogos de botão... Na verdade fazia todas as vozes: narrador, comentarista, repórter, plantão, jogadores, técnico, dirigentes e até os barulhos da torcida... Mas não imaginava que seria mesmo um narrador esportivo...
2) Conte-nos como foi o seu início de carreira:
Difícil! Quando terminei o segundo grau fiz vestibular e entrei na faculdade de Arquitetura... Isso foi no início dos anos 80! Durante o curso fui conhecendo algumas pessoas que me ligaram ao rádio e achei a porta de entrada... Em 83, tive a primeira chance e aproveitei... Comecei na rádio Paraná de Curitiba... Quem me abriu caminho foi Sidney Campos, que até hoje revela gente para o meio... comecei como repórter, apresentador e depois de dois meses já estava narrando meu primeiro jogo profissional...
3) Como foi a sua primeira transmissão? Conte-nos o antes, o durante e o depois da jornada:
Foi Botafogo x Coritiba no Maracanã, em 1983, pelo Brasileiro... O Botafogo venceu por 3x1! Antes tinha feito algumas narrações de Futsal e jogos de categorias de base... Mas, aquela que considero minha primeira vez é essa transmissão no Rio, Maracanã... Eu guardava essa fita mas ela acabou se perdendo entre tantas mudanças que fiz na vida... Foi uma coisa marcante, porque encarei o desafio sozinho... Vendi as cotas de patrocínio para bancar a viagem e os custos da Embratel, que fornecia a linha de transmissão. Viajei para o Rio e fui para o estádio... Quando entrei no Maracanã, tremi! Era gigantesco, imponente e mágico. E, eu estava lá para narrar pela primeira vez um jogo de futebol... O Luiz Carlos Largo, que hoje narra na ESPN Brasil era o plantão esportivo... Começamos juntos na Rádio Paraná... Botafogo 3x1 Coritiba... 1983!
4) Ainda tem alguma partida que você sonha narrar?
Já narrei grandes eventos... Final da Copa de 86, Fórmula 1 nos bons tempos de Senna, Piquet, Prost e Mansell... mas isso tudo nos tempos do rádio... Hoje penso em estar na equipe do Sportv que cobrirá a Copa do Mundo no ano que vem... Narrar um jogo no mundial de 2014 será uma realização pessoal e profissional... Mas, atualmente olho apenas para os jogos que vem pela frente... na próxima rodada...
5) Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou em sua profissão?
Olha, não posso reclamar de nada... cada passo que dei me levou para frente... a grande dificuldade que todos enfrentam nesta profissão é conquistar uma remuneração capaz de dar conforto... hoje, felizmente atingi esse patamar... mas demorou... antes tinha que ralar em três ou quatro empregos ao mesmo tempo... rádio, tv, jornal, assessoria de imprensa, tudo de uma vez para construir um salário razoável... isso te deixa um pouco desfocado, porque uma coisa atrapalha a outra... por causa da coincidência de horários dos eventos...
6) Como é trabalhar no SporTV? Já se considera no ápice da carreira ou ainda tem algum objetivo que queira alcançar?
Estou onde gostaria de estar, desde o começo... O Sportv é o principal canal de esportes do país... Tem os principais eventos e está cada vez conquistando mais audiência... Trabalho nos jogos da Globo aos domingos e quarta, eventualmente, no Show do Intervalo... O Premiére é um canal com crescimento pleno de assinantes... então estou no melhor lugar que poderia sonhar em estar...
7) Qual foi a melhor partida que você narrou? Aquele jogaço inesquecível.
Um jogo marcante foi Argentina 3x2 Alemanha, em 86, no México... era a final da Copa e a copa de Maradona... Foi um jogo emocionante, decidido nos instantes finais... Copa do Mundo é um evento diferente... Aquele foi um jogo especial... Mas foi no rádio... Nesta fase de televisão, fiz um jogo das eliminatórias outro dia em Buenos Aires, Argentina 0x0 Colômbia... tive a chance de narrar alguns minutos de Messi e isso considero um privilégio... Maradona, Messi e já tinha visto Pelé ao vivo no Belfort Duarte num Atlético Paranaense 0x1 Santos, com um gol dele... Vi os três ao vivo... é para poucos.... Além de outras feras... Rivelino, Gerson, Jairzinho... quase todos da Copa de 70... a geração mais espetacular que tive chance de ver...
8) Você prefere mata-mata ou pontos corridos?
Creio que haja equilíbrio na distribuição dos sistemas... Só mata-mata ia enjoar... Tudo na base do mata-mata ia cansar... No Brasileiro eu adotaria a fórmula do campeonato carioca... com dois grupos de 10 times, final de turno e final de campeonato... aí teríamos uma mistura dos dois sistemas e talvez desse um toque de drama nas decisões... o que falta um pouco neste esquema dos pontos corridos...
9) Quais são suas expectativas para a Seleção brasileira na Copa do Mundo? Quais são os favoritos e quais seleções podem surgir como azarões?
É prematuro apontar favoritos... O Brasil joga em casa, terá a torcida, mas terá que jogar mais do que está jogando... Na Copa das Confederações tivemos um time forte, competitivo, com apetite e ambição... foi um Brasil diferente de 2010, por exemplo. Mas temos que ter calma ao decidir que são os favoritos... ainda é cedo...
10) Como você avalia o atual momento do futebol brasileiro? Com as saídas de Neymar e Paulinho e a venda do Bernard, acha que ficamos refém de craques?
A saída de jogadores é um processo natural... quando um sai, vem outro atrás... às vezes demora para aparecer alguém no mesmo nível... mas as mudanças são previsíveis... o mundo é regido pelo mercado e no futebol o dinheiro fala mais alto atualmente... não existem jogadores comprometidos com os clubes ou as torcidas... com os projetos... por “três dinheiros” os caras arrumam as malas e partem... é um ciclo natural...
11) Na sua opinião, o Atlético MG ainda pode ser campeão brasileiro e da Copa do Brasil, ou o foco mesmo é o Mundial em Dezembro?
O Atlético tem um bom grupo de jogadores e um time de futebol muito competitivo... O Mundial é a prioridade natural... O Brasileiro é longo e exige constância... regularidade... A Copa do Brasil será um “tiro curto”... oito jogos... quem está nela vai investir no título e o torneio será interessante neste aspecto... Mas, no caso do Atlético, o Mundial deve estar em primeiro plano.
12) Como você vê a situação dos técnicos brasileiros? Acha que estão desprestigiados na Europa diferente de técnicos argentinos como o Tata Martino que acabou de assumir o Barcelona?
O mercado europeu nunca deu prioridade aos técnicos brasileiros... poucos passaram por lá... a língua dificulta a abertura de portas... a dificuldade de comunicação... são raros os casos de treinadores que falam inglês ou outra língua com fluência... Até porque os treinadores brasileiros não colocam o mercado europeu como uma alternativa... os que se deram melhor foram para Portugal, como Carlos Alberto Silva no Porto e Felipão na seleção portuguesa... Tem os exemplos de Ricardo Gomes e Abel Braga na França, que fizeram sucesso porque passaram um bom tempo lá jogando e depois treinaram seus ex-times... Luxemburgo já sofreu com o problema da comunicação... Tata Martino não terá esse problema porque conhece a língua, é a mesma do país dele.
13) Pra você, quem vai brigar pelo título do Brasileirão?
Este Brasileiro é o mais imprevisível de todos desde 2003... Veja a distância entre que está no meio da tabela para o G-4 e a ZR... duas vitórias colocam na briga pelo título... duas derrotas abrem as portas do rebaixamento...
14) Qual sua opinião sobre as manifestações e os protestos que vem acontecendo no Brasil?
Acho legítimo exigirmos mudanças, cobrarmos o governo... mas a situação está fora do controle... tem muito bandido nas ruas, quebrando, agredindo, assaltando, tirando proveito do anonimato e da inoperância do governo... os governantes estão mais preocupados com as eleições e não tomam as decisões que precisam tomar nesse momento para manter a ordem... quem agride e quebra o patrimônio particular e público deveria responder à lei... não dá para aceitar o que está acontecendo como manifestações apenas... os enfrentamentos são premeditados e inaceitáveis... tem muita coisa errada no país, inclusive isso...
15) Muitos jovens hoje sonham ser jornalistas esportivos. O que você tem a dizer para os novos e futuros jornalistas?
Aprendi um dia com o Marco Aurélio, que era apresentador da CBN e depois da Rádio Globo e com quem tive o prazer de trabalhar, que o maior patrimônio de um jornalista é a credibilidade... esse deve ser o foco de quem entra neste meio... o esporte é fascinante, mas há muitas armadilhas pelo caminho e é preciso estar atento a elas...
16) Caso você não tivesse seguido a profissão de jornalista, qual outra profissão gostaria de exercer?
Arquitetura
17) Qual o melhor jogador do mundo atualmente? Na última temporada, o Messi foi o melhor ou algum outro jogador foi superior a ele?
Essa coisa de melhor do mundo é uma discussão muito subjetiva... O Messi é o melhor jogador em atividade atualmente... ele é prático, objetivo e inteligente... faz o que todo jogo jogador deveria fazer... joga para fazer gols... para ele e a equipe fazerem gols... a simplicidade o torna melhor, bem melhor que a maioria...
18) Qual o seu maior ídolo no futebol?
Olha não cultivo essa coisa de idolatria... admiro muitos esportistas, não só no futebol... vivi muito tempo a Fórmula 1 e a Indy... o vôlei... então tem pessoas que admiro pelas qualidades... mas nenhum grande ídolo... um cara que eu idolatro é o Galvão Bueno... ele faz o que eu faço e é maior de todos... podem gostar dele ou não... mas ele é indiscutível... é o maior de todos...
19) Que outros esportes você gosta mais, além do futebol e quais são os seus ídolos nesses esportes?
Muita gente não considera automobilismo um esporte... mas é o meu preferido depois do futebol... vivi de perto aquela geração da F-1 que tinha Piquet (narrei o tricampeonato dele em 87 no rádio), Senna (o primeiro título), Prost e Mansell... era uma geração fantástica... depois fui trabalhar como assessor de imprensa do piloto Mauricio Gugelmin, que morava em Curitiba e correu na F-1 de 88 a 92 e depois na Indy de 93 a 2001... foi um período inesquecível...
20) Para encerrar, gostaria que você mandasse um abraço e um recado para os seus fãs que acompanharam essa entrevista e para os leitores do Arroz com Feijão & Bola.
Olha, foi um enorme prazer responder as perguntas e expor algumas ideias... sei que muitos que vão ler esta entrevista sonham em estar narrando, comentando, apresentando ou fazendo reportagens um dia... pensem nisso como uma possibilidade e não somente como um sonho... acreditar nos sonhos é torna-los possíveis... então, amigos, vamos à luta... um grande abraço a todos e espero que tenham gostado... estarei sempre à disposição!
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