William Tavares. Narrador e apresentador dos canais ESPN. |
Fala galera do AF&B! Hoje não entrevisto apenas um ícone, um jornalista diferenciado e um dos melhores apresentadores esportivos atualmente, além de ser um dos narradores que mais influenciam em minhas narrações.
Hoje, entrevisto um amigo, e é uma honra tê-lo como tal: William Tavares, dos canais ESPN, cedeu um tempinho para responder as nossas perguntas sobre coisas da carreira, da vida e é claro, do futebol brasileiro e mundial.
Confira:
1) William, desde já agradeço a sua disponibilidade para atender o nosso blog, do qual desde o início você acompanha e "apadrinha". Como foi o "Pré-Jornalismo" e o começo da sua carreira?
Antes de ser jornalista eu fui atendente e gerente de videolocadora. Trabalhei em lojas de Santos até chegar a Blockbuster onde fiquei cinco anos. A sétima arte é uma das grandes paixões da minha vida, tanto que pensei em fazer faculdade de cinema. No entanto, já aos 24 anos optei pelo jornalismo e comecei o curso. Fiz toda minha carreira em Santos. Trabalhei na Santa Cecília TV, TV Primeira, TV Tribuna ( afiliada a Rede Globo ) e também na Record. Passei ainda pelas rádios Litoral FM e Cacique AM. Fui repórter, produtor, apresentador, editor de texto, editor chefe, enfim, aprendi de tudo um pouco. Em janeiro de 2011 ingressei nos canais ESPN, que era um dos meus grandes sonhos.
2) Quais dicas você daria para quem está começando no mundo da narração, da apresentação e, é claro, no jornalismo esportivo?
Análise crítica. Tentar fazer a leitura daquilo que pode estar por trás de uma declaração, uma negociação, etc... Isso só é possível mediante muita leitura diária dos fatos, livros, checar blogs das principais referências no esporte, ouvir rádio, ver tv. Assistir muitos jogos, no campo, de preferência. É por isso que precisa realmente amar o que faz, porque seja qual for a função que vai exercer no jornalismo, você terá que acordar, viver e dormir com a sua escolha. Aí você me pergunta, mas precisa tudo isso para apresentar? Sim.
Um apresentador bem informado vai saber fazer as perguntas corretas, vai saber se virar em meio a qualquer problema técnico, vai saber conversar com seu comentarista. Pra narrar é a mesma coisa. Em média estudamos cerca de três horas para cada partida. Esporte é mais que narrar, é também informar, trazer curiosidades. Isso é vital principalmente quando a partida está chata. Comece treinando a narração num jogo de botão, no videogame. Pode se inspirar em alguém também e não se preocupe em criar bordões, eles vem naturalmente. Use se quiser.
3) Sobre o caso "Héverton / Lusa / STJD / CBF / Fluminense". Qual a sua posição sobre o assunto? Mesmo a Portuguesa errando, haveria outra medida para que não causasse tanto tumulto no futebol como está causando?
A Portuguesa errou de maneira absurda, amadora e bizarra. As pessoas envolvidas nesse erro – vamos dizer por enquanto que foi erro – deveriam ter sido afastadas imediatamente do clube sem direito a retorno nunca mais. O que está na lei deve ser cumprido e quem está no meio e desconhece as regras é no mínimo irresponsável. Esse é um ponto.
Outra questão é que o “beneficiado” foi o Fluminense. Se fosse qualquer outra equipe, provavelmente a repercussão não seria a mesma. O problema é que a equipe carioca tem em seu passado recente um histórico de acessos digamos “indevidos”. O ponto crucial dessa história é que a lei é muito pesada. Rebaixar uma equipe por escalar um jogador irregular apenas por 11, 12 minutos? Então que se faça a lei e vamos rever a penalidade para os próximos campeonatos. O problema é que ninguém mais falou sobre isso.
O foco continua na decisão dos tribunais. Deveríamos passar mais tempo discutindo a revisão do artigo sobre escalar jogador irregularmente.
4) Alan Kardec, Leandro Damião, Alexandre Pato... Hoje em dia paga-se muito, para quem não é lá essas coisas. O que você pensa sobre a supervalorização dos jogadores no Brasil?
O problema não é quem pede, é realmente quem paga. Você citou dois jogadores com passagens pelo exterior. Deram certo por lá? Acho que não. Aí, como são novos, voltam ao futebol brasileiro com a grife europeia e o salário de lá. É incrível como retornam ao Brasil com vencimentos como se estivessem arrebentando na Europa! Só voltam porque não estão bem. Já viu algum jogador em alta no velho continente chegar por aqui? Fora que é muita gente ganhando nas transações até mesmo dentro do país. Supervalorização significa carência de bons jogadores - quando aparece um é o salvador – além de ganhos maiores para todos os envolvidos. Isso está acabando com os clubes que se canibalizam numa competição muitas vezes pela raspa da panela. Há muita coisa estranha, mal explicada e suspeita por trás de todas essas transações.
5) Racismo, torcidas organizadas e baixo público nos estádios. Estamos vivendo o pior momento nos estádios brasileiros e a torcida brasileira está doente?
Em termos de qualidade de infra-estrutura é o melhor momento dos estádios. São 12 para a Copa entre novos e reformados. Era tudo que pedíamos. Como agora quem manda nessas arenas são consórcios geridos por pessoas que não sabem nada de futebol, os preços são muitas vezes incompatíveis com a realidade do torcedor. Isso é uma coisa.
Estamos ainda engatinhando nos programas de sócio torcedor, mas é algo positivo. A questão é a seguinte: você levaria seu filho a um local onde um torcedor mata o outro com um vaso sanitário? Onde fazem o que fizeram as torcidas de Vasco e Atlético (PR)? Vale a pena ir ao estádio em Goiás? Ir a lugares onde alguns dos “bonzinhos” de Oruro caminham livremente? Pensa bem. Um problema de punição. Se ela fosse exemplar e as leis rígidas esses bandidos estariam longe das arenas e o torcedor onde deve estar, nas arquibancadas.
6) Qual foi o momento mais marcante da sua carreira, até agora?
A transmissão in loco do US Open de tênis em 2012
7) Falando sobre Copa do Mundo. Quais seleções surgem como favoritas e quais podem surpreender? A Seleção Brasileira depende muito do Neymar, e essa pressão descomunal sobre ele, pode pesar em um confronto mais pesado de Semifinal e Final?
Os favoritos são Brasil ( porque joga em casa, do contrário não seria favorito ), Alemanha, Espanha, Argentina e colocaria a Itália também. Algumas seleções podem surpreender, não com título, mas indo longe, casos de Bélgica e Colômbia. Já o Neymar tem muita liberdade na seleção com o Felipão, se sente a vontade, está mais cascudo com a experiência na Europa. Eu acho que ele sentirá sim a pressão, mas vai saber lidar com ela. A torcida será fundamental nisso.
8) Tem algum time que você admire mais ou isso é "Segredo de Estado" para jornalistas?
Para muitos jornalistas isso é segredo de Estado e eu respeito esse posicionamento. Com imbecis à solta, companheiros de profissão podem ser agredidos na rua ou mesmo em estádios. Temos casos que comprovam isso inclusive com invasão nas cabines de transmissão. No entanto desde que entrei na ESPN adotei a postura de falar sempre que perguntado. Sou Santos Futebol Clube e não se trata de mera admiração, torço mesmo!
9) Atualmente, quem é o brasileiro que vem jogando melhor na Europa?
Veja bem, vou falar um aqui que não é o mais habilidoso e nem brasileiro é mais, porém o Diego Costa tem sido o mais útil para o time em que joga. Gostei muito da temporada do Philippe Coutinho no Liverpool, do Oscar no Chelsea e do Miranda no Atlético de Madrid.
10) Muito obrigado William, por essa ótima entrevista e gostaria que você deixasse um ALÔ para os leitores do blog Arroz com Feijão & Bola e, é claro, para quem está começando a trilhar o sonho de ser jornalista:
Foi um prazer. Gosto muito de manter esse contato com os fãs de esporte e gente que tem o sonho de seguir na profissão. Se você quer ser jornalista esportivo siga os passos da resposta número dois. Procure entender de tudo um pouco na cadeia produtiva de TV, internet, impresso, rádio e mídias sociais. Procure exercer a profissão de alguma forma desde o início da faculdade. Se não for possível crie um blog, web rádio comece a escrever suas idéias e pensamentos sobre o esporte. Tente visitar as emissoras, fazer contato. Hoje com as redes sociais isso é muito mais fácil, networking é tudo. Tem que correr atrás, ser persistente, bater nas portas e ter humildade para aprender, ouvir os mais experientes e sempre respeitar os colegas de trabalho, mesmo aqueles que você não goste ou discorde das ideias. Seja pró ativo, criativo e saiba que não se faz jornalismo sozinho numa empresa. Você depende de um grupo. Faça parte dele, tenha a confiança dele, reconheça seus erros e não passe a bola, assuma suas responsabilidades. Você pode até não ser o melhor, mas terá sempre respeito e lugar no mercado de trabalho.
Parabéns pela entrevista Felipe. Amei as dicas, vou lembrar delas sempre.
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