GUSTAVO ROMAN.
Tive a honra de entrevistar aquele que tem um dos maiores acervos de videos de jogos de futebol, além de um dos melhores comentaristas, e escritores da atualidade, com quem tenho o prazer de trabalhar ao lado na web-rádio Esquadrão Esportes.
Excelente profissional e pessoa, Gustavo fala de sua paixão pelo futebol, seus livros e o atual momento do jornalismo esportivo e do futebol brasileiro.
CONFIRA:
Boa Noite Gustavo Roman! Pra mim é um prazer poder te entrevistar, agradeço a disponibilidade que teve com o Arroz com Feijão & Bola.
1) Roman, como você define a sua paixão pelo futebol?
Primeiro, é um prazer ser entrevistado por você. Minha paixão por futebol vem desde criança. Eu chegava ficar na sala, com meu pai, até mais tarde no domingo, só pra ver o VT do jogo da rodada, que passava na TVE. Ou, quando durante a semana, minha mãe me colocava pra dormir, pois tinha que acordar cedo no dia seguinte pra escola, eu escondia o Walkman (entreguei minha idade) embaixo do travesseiro e ficava escutando ou os jogos ou os programas esportivos. Só dormia depois. Então, a paixão sempre esteve presente. A única coisa que mudou é que hoje, ganho para isso.
2) Quando começou a ideia de colecionar jogos de futebol? Há algum jogo dentre todos os que você possui gravados, que seja o seu "xodózinho"?
Comecei a colecionar jogos em 2005. Eu queria ver com mais detalhes a era de ouro do Flamengo, entre 78 e 83. Eu era muito pequeno nessa época (em 83, tinha 7 anos) e só tinha na memória alguns lances. Tenho alguns xodós na minha coleção. Flamengo 1x0 Vasco, de 78, por ter sido meu primeiro jogo.
Flamengo 3x0 Liverpool, por ser o maior título do meu clube. Os jogos do Brasil nas Copas que vencemos. A Laranja Mecânica, de 74, o Brasil de 82, que aliás, virou tema do meu primeiro livro. Enfim, são vários.
3) Qual foi o primeiro jogo que você viu no estádio?
No estádio, que eu me lembre, foi a final do Campeonato Brasileiro de 1983, Flamengo 3x0 Santos. Eu tinha sete anos e foi o último jogo do Zico antes de ir para a Udinese. Ele jogou a decisão já vendido. Só ele sabia. Não me lembro muito das sensações que experimentei no Maracanã. Mas da partida, até por ter visto em VT, lembro bem.
4) Quando Gustavo Roman decidiu ser jornalista?
Na verdade, a primeira faculdade que eu cursei, em 95 foi a de jornalismo. Fiz 2 períodos na Puc do Rio e depois um ano no Pfeiffer College, nos Eua. Quando voltei, tranquei a faculdade e fui dar aulas de tênis, pois tinha sido atleta infanto-juvenil. Me formei em Educação física, mas a paixão pelo futebol sempre falou mais alto. Chegava a ser engraçado. Os alunos querendo conversar se eu tinha assistido a final entre Federer e Nadal e eu respondia que não, que na mesma hora tinha visto Xv de Jaú x Penapolense. Em 2010, conheci o jornalista Mauro Beting, que me convidou a participar do extinto Beting e Beting, no Bandsports. Dali em diante, a chama de ser jornalista reacendeu.
5) Como você avalia o atual momento do jornalismo esportivo brasileiro?
Com alguma frustração. Existem jornalistas brilhantes como Mauro Beting, Leonardo Bertozi, Lédio Carmona, Vítor Sérgio Rodrigues, André Rocha, Dassler Marques e outros. Mas atualmente, a parte do entretenimento e do merchandising está acima do jornalismo. Entendo que a empresa tem que faturar e obter audiência. Mas acredito que poderia se achar uma maneira de fazer isso com pessoas mais sérias.
6) Agora Gustavo, gostaria que você falasse sobre os livros que você já escreveu e os projetos que estão vindo por aí:
Meu primeiro livro foi o Sarriá 82, o que faltou ao futebol arte? Escrito em parceria com Renato Zanata. Nele, discutimos e analisamos jogo a jogo a seleção do Telê. Mostramos que os erros que culminaram com a eliminação diante da Itália, já vinham ocorrendo desde o começo do trabalho. E não foram corrigidos ou minimizados.
Depois, veio o No campo e na moral, Flamengo campeão brasileiro de 1987, que inclusive estarei autografando na Bienal do Livro. Aqui, conto como foi a Copa União de 87, mas só com o que rolou dentro das quatro linhas, deixando de lado besteiras e absurdos de cartolas. Mês que vem sai Os 30 maiores jogos do Flamengo, da coleção Jogos Memoráveis da Iventura Editora. Fiquei muito feliz quando recebi esse convite, pois a ideia era da editora. E eles confiaram no meu trabalho. Convidei para o projeto um baita jornalista, o Vítor Sérgio Rodrigues e estamos na expectativa do lançamento. E, pra terminar, já estou trabalhando na biografia do Leandro, ex lateral do Flamengo e da Seleção. O projeto ainda está no início e não posso dar maiores detalhes, mas ele tem previsão de lançamento para Março de 2014.
7) Houve algum Grande Jornalista que te inspirou?
Minha maior referência é o Mauro Beting. Não só pelo jornalista que é, mas principalmente pelo caráter que possui. O Mauro é uma baita pessoa, que sempre me ajudou. Hoje, tenho orgulho de dizer que não sou apenas fã, mas que me tornei amigo dele.
8) O que você tem a dizer para os jovens que sonham ser jornalistas?
Estudem muito. Leiam muito. Pesquisem. Não subestimem nada. Procurem começar em jornais de bairro, igreja, web-rádio o que for. É nesse período que você vai poder errar e aprender.
9) Qual o seu time de coração e qual o seu momento inesquecível como torcedor desse time?
Sou Flamengo. Quando estou trabalhando eu deixo de ser Flamengo. Tem uma frase do Mauro Beting que resume bem como o jornalista deve lidar com isso. “Todo jornalista deve torcer, só não pode distorcer”. Meu maior momento como torcedor foi a final da Copa União de 87. Eu já tinha 12 anos e pude guardar todos os detalhes na memória. Além de ter sido o último título do meu grande ídolo, o Zico (ele chegou a ganhar a Taça Guanabara de 88 e de 89, mas não os considero títulos)
10) Falando sobre futebol, o Messi ainda é o melhor do mundo ou algum outro jogador o igualou na última temporada?
O Messi é de outro mundo. Ele é hoje o que o Pelé foi na sua época. A maneira como ele conduz a bola, como acha os companheiros é inacreditável. Ele não se joga para cavar faltas. E, além de tudo, é artilheiro. Ele é fenomenal!
11) Como você avalia o atual momento do futebol brasileiro?
Já não temos os melhores jogadores do mundo. E continuamos muito atrasados em termos táticos e de treinadores. Mas, apesar de tudo isso, aquela camisa amarelinha ainda impõem medo. E quando existe uma sinergia com a torcida, como houve na Copa das Confederações, fica muito difícil ser derrotado.
12) Quem você coloca como favorito ao título do Brasileirão e da Copa do Brasil?
São duas competições completamente diferentes, tanto do ponto de vista técnico como estratégico. Para ganhar o brasileiro, tem que ter um elenco forte, peças de reposição. Pra essa competição, considero o Corinthians o grande favorito. Já para a Copa do Brasil, onde um gol fora de casa pode determinar quem se classifica e quem é eliminado, acredito que o Inter chegue a decisão.
13) Quem é o melhor jogador em atividade no Brasil?
Essa é difícil de responder. Todos os que brilharam aqui estão indo para a Europa. Acho que o grande jogador que temos aqui é o Seedorf, por tudo que representa para o Botafogo.
14) Quais são os pontos fundamentais que ainda faltam ao Campeonato Brasileiro para poder chegar perto do nível de uma liga européia?
Organização, organização e organização. Não dá pra se levar a sério um campeonato em que pedras são arremessadas nos atletas ou que torcedores são mortos por rojões. O dia que houver organização, com campos dando boas condições aos atletas, chegaremos lá.
15) Qual foi o melhor time que você viu jogar?
O Flamengo de 81, o Brasil de 70 e Barcelona do Guardiola. Esse três times foram espetaculares. Não é a toa que temos várias semelhanças entre eles.
16) Quem é o seu maior ídolo no futebol?
Zico. Não tenho nem o que falar dele como atleta, como pessoa. E um dos maiores presentes que recebi na profissão foi ter conhecido meu grande ídolo.
17) Você curte mais futebol nacional ou internacional? Por Quê?
Qual a liga européia que você mais curte?
Eu gosto de futebol. Pouco importa se é nacional ou internacional. Geralmente, nos fins de semana, assisto os Europeus de manhã e de tarde e os nacionais depois. Gosto muito da Premier League e da Bundesliga, pela intensidade com que os jogos são disputados.
18) Quais são as suas expectativas para a Copa do Mundo do ano que vem? O Brasil após o título da Copa das Confederações tornou-se um dos favoritos ao título? Quais as outras seleções surgem como favoritas e, finalmente, quais seleções podem surgir como azarões?
As expectativas são as melhores possíveis. Independentemente de como os estádios foram construídos (e eu concordo que não deveria ter entrado tanto dinheiro público na construção deles), será a realização de um sonho, tanto pelo lado pessoal, como pelo profissional. Quando terei outra oportunidade de ver os maiores jogadores do mundo desfilando seus talentos por aqui? O Brasil tem que ser sim, sempre, um dos favoritos. Até pela sinergia alcançada com a torcida. O hino sendo cantado a capela é maravilhoso (posso dizer porque estava lá, na final contra a Espanha) Os caras olham pra aquilo e falam, meu deus, como vamos ganhar? E tem a entrega que o Felipão consegue dos seus jogadores. Eles se doam do primeiro ao último minuto. As outras favoritas pra mim são: Espanha, Alemanha, Holanda e Argentina. Como azarões podemos ter alguma seleção africana, talvez Gana. Ou ainda o Japão, que descansado e motivado deu um trabalho tremendo aos italianos, no melhor jogo da Copa das Confederações. Mas é difícil apontar isso agora.
19) Recentemente, o técnico argentino Gerardo Martino assumiu o comando do Barcelona. Por Quê os técnicos brasileiros não são tão valorizados na Europa como os técnicos argentinos e até chilenos, no caso do Manuel Pellegrini, técnico do Manchester City?
Pelo simples fato de que eles não se atualizam na parte tática, de treinamento. A cultura do futebol brasileiro sempre foi de deixar isso de lado, pois o jogador iria resolver no improviso. Hoje, se o time não estiver minimamente organizado, não anda em campo. Isso não quer dizer que não tenhamos bons treinadores. Mano Menezes é um ótimo nome, que está sempre se atualizando.
20) Que outros esportes você gosta mais, além do futebol e quais são os seus ídolos nesses esportes?
Gosto de qualquer esporte. Agora, para parar na frente da TV, tenho alguns. O tênis, esporte que dei aula. O futebol americano, basquete, vôlei, MMA. Meus ídolos nesses esportes são o Gustavo Kuerten (contra quem eu joguei na época de infanto-juvenil), o Joe Montana, Michael Jordan, Magic Johnson, Kobe Bryant, Oscar Schmidt, Karch Kirally, Zaitsev e José Aldo.
21) Na sua opinião, Kaká, Robinho e Ronaldinho Gaúcho ainda tem chances de jogarem a Copa do Mundo ano que vem?
Chance, sempre tem. Mas eles terão que jogar muita bola. O R10 é o que encontra-se mais próximo disso. Foi chamado mais vezes e acredito que com uma eventual baixa no grupo atual, seria uma das primeiras opções. Os outros dois vão ter que jogar para ganhar o prêmio de melhor do mundo, se quiserem ser convocados. O Kaká, quando teve a chance não aproveitou. E o Robinho nem chance teve.
22) Você prefere mata-mata ou pontos corridos? Por Quê?
Como jornalista, prefiro pontos corridos. Pelo simples fato que não dá pra argumentar contra alguém que somou o maior número de pontos. O campeão é sempre merecido. Pode não ser o mais encantador, mas foi, no mínimo, o mais eficiente. Agora, confesso que sinto falta do mata-mata. Meu lado torcedor não consegue admitir que um campeonato não tenha a emoção de uma decisão, com estádio lotado.
23) O futebol de antigamente é melhor do que o futebol atual?
Depende da perspectiva. Claro que, antigamente, tínhamos um número muito maior de craques e grandes jogadores. Isso é fato. Por outro lado, hoje, temos uma organização tática que beira a perfeição. Acho que o ideal seria uma mistura dos dois, com os craques do passado aplicados como hoje em dia.
24) Como é fazer parte da Esquadrão Esportes?
É uma honra muito grande. Estar ao lado de jovens promessas, como você, o Ed, o PT e poder passar um pouco da minha experiência (trabalho que o Henrique também faz brilhantemente). Além disso, é uma maneira de praticar o jornalismo e fazer o que mais gosto, que é comentar as partidas.
25) Você poderia escalar um time com os melhores de todos os tempos, na sua opinião?
Numa pergunta como essa, sempre teremos injustiças, mas como opinião é subjetiva, vou me arriscar. Banks, Djalma Santos, Beckenbauer, Baresi e Nilton Santos, Puskas, Maradona, Cruiyff e Pelé, Garrincha e Messi. Que tal?
26) Estamos tendo as manifestações pelo Brasil, desde o histórico 17 de Junho. Qual a sua opinião sobre essas manifestações?
Acho que finalmente o povo descobriu o poder que tem. Só assim, cobrando, mas sem vandalismo, é que nosso país vai acabar com os sanguessugas que são nossos políticos. Meu único medo é que isso seja uma coisa passageira. Chegar na próxima eleição e votar no mesmo safado e corrupto de sempre.
27) Para encerrar, gostaria que você mandasse um abraço e um recado para os seus fãs que acompanharam essa entrevista e para os leitores do Arroz com Feijão & Bola.
Bom, queria agradecer a você, pela oportunidade. Gostaria de convidar a todos para, no dia 31 de Agosto, estar na Bienal do Livro, Pavilhão verde, estande p-24. Lá, a partir das 14.00, estarei autografando meu livro No campo e na moral, Flamengo campeão brasileiro de 1987.Também gostaria de convidar todos para o lançamento da minha nova obra, em parceria com o jornalista Vítor Sérgio Rodrigues. Os 30 maiores jogos do Flamengo sai no fim do mês que vem e, vale lembrar, será livro oficial do Flamengo. Então, quem quiser saber um pouco mais da história do clube da Gávea, é só adquirir o livro. Abraços a todos e muito obrigado pela audiência, seja aqui, na rádio ou em qualquer mídia que eu estiver.
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